Na Quarta-feira de Cinzas, 18, o papa
Francisco falou da vocação do irmão e da irmã na família. Dando continuidade às
catequeses sobre a família, o papa apresentou reflexão sobre a passagem bíblica
de Caim e Abel e chamou atenção para as relações dolorosas de conflito, de
traição, de ódio entre irmãos.
“A quebra do vínculo entre irmãos é uma coisa
bruta e má para a humanidade. Também em família, quantos irmãos brigam por
coisas pequenas, ou por uma herança e depois não se falam mais, não se saúdam
mais. Isto é ruim!”, disse Francisco.
Ao final da catequese, o papa sugeriu para que
todos rezem por seus irmãos. “Em silêncio cada um de nós, pensemos nos nossos
irmãos, nas nossas irmãs e em silêncio do coração rezemos por eles”, disse.
Confira a íntegra da mensagem:
Queridos irmãos e irmãs, bom dia.
No nosso caminho de catequeses sobre família,
depois de ter considerado o papel da mãe, do pai, dos filhos, hoje é a vez dos
irmãos. “Irmão” e “irmã” são palavras que o cristianismo ama muito. E, graças à
experiência familiar, são palavras que todas as culturas e todas as épocas
compreendem.
A ligação fraterna tem um lugar especial na
história do povo de Deus, que recebe a sua revelação no vivo da experiência
humana. O salmista canta a beleza da ligação fraterna: “Eis como é belo e como
é doce que os irmãos vivam juntos!” (Sal 132, 1). E isto é verdade, a
fraternidade é bonita! Jesus Cristo levou à sua plenitude também esta
experiência humana de ser irmãos e irmãs, assumindo-a no amor trinitário e
potencializando-a de forma que vá bem além das ligações de parentesco e possa
superar todo muro de estranheza.
Sabemos que quando a relação fraterna se
arruína, quando se arruína as relações entre irmãos, se abre o caminho a
experiências dolorosas de conflito, de traição, de ódio. A passagem bíblica de
Caim e Abel constitui o exemplo deste êxito negativo. Depois do assassinato de
Abel, Deus pergunta a Caim: “Onde está Abel, o teu irmão?”(Gen 4,9a).
É uma
pergunta que o Senhor continua a repetir a cada geração. E, infelizmente, não
cessa de se repetir também a dramática resposta de Caim: “Não sei. Sou talvez
eu o protetor do meu irmão?” (Gen 4,9b). A quebra do vínculo entre irmãos
é uma coisa bruta e má para a humanidade. Também em família, quantos irmãos
brigam por coisas pequenas, ou por uma herança e depois não se falam mais, não
se saúdam mais. Isto é ruim! A fraternidade é uma coisa grande, quando se pensa
que todos os irmãos habitaram o ventre da mesma mãe durante nove meses, vêm da
mesma carne da mãe! E não se pode romper a fraternidade. Pensemos um pouco:
todos conhecemos famílias que têm irmãos divididos, que brigaram; peçamos ao
Senhor por estas famílias – talvez na nossa família há alguns casos – que os
ajude a reunir os irmãos, a reconstituir a família. A fraternidade não deve ser
rompida e quando se rompe acontece o que aconteceu com Caim e Abel. Quando o
Senhor pergunta a Caim onde está o seu irmão, ele responde: “Mas, eu não sei, a
mim não importa o meu irmão”. Isto é bruto, é uma coisa muito dolorosa de
ouvir. Nas nossas orações sempre rezemos pelos irmãos que se dividiram.
A ligação de fraternidade que se forma em
família entre os filhos, se acontece em um clima de educação à abertura aos
outros, é a grande escola de liberdade e de paz. Na família, entre irmãos, se
aprende a convivência humana, como se deve conviver em sociedade. Talvez nem
sempre somos conscientes disso, mas é justamente a família que introduz a
fraternidade no mundo! A partir dessa primeira experiência de fraternidade,
alimentada pelos afetos e pela educação familiar, o estilo de fraternidade se
irradia como uma promessa sobre toda a sociedade e sobre relações entre os
povos.
A benção que Deus, em Jesus Cristo, derrama
sobre este vínculo de fraternidade o dilata de um modo inimaginável, tornando-o
capaz de ultrapassar toda diferença de nação, de língua, de cultura e até mesmo
de religião.
Pensem o que se torna a ligação entre os
homens, mesmo muito diferentes entre eles, quando podem dizer do outro: “Este é
como um irmão, esta é como uma irmã para mim!”. Isso é belo! A história mostrou
o suficiente que, mesmo a liberdade e a igualdade, sem fraternidade, podem se
encher de individualismo e de conformismo, também de interesse pessoal.
A fraternidade em família resplandece de modo
especial quando vemos a preocupação, a paciência, o afeto de que são
circundados o irmãozinho ou a irmãzinha mais frágil, doente ou portador de
necessidades especiais. Os irmãos e irmãs que fazem isso são muitos, em todo o
mundo, e talvez não apreciamos o suficiente sua generosidade. E quando ou
irmãos são tantos na família – hoje, cumprimentei uma família que tem nove
filhos – o maior ou a maior ajuda o pai, a mãe a cuidar do menor. E é bonito
este trabalho de ajuda entre os irmãos.
Ter um irmão, uma irmã que te quer bem é uma
experiência forte, impagável, insubstituível. Do mesmo modo acontece para a
fraternidade cristã. Os menores, os mais frágeis, os mais pobres devem nos
sensibilizar: têm “direito” de nos tomar a alma e o coração. Sim, esses são
nossos irmãos e como tais devemos amá-los e cuidar deles. Quando isso acontece,
quando os pobres são como de casa, a nossa própria fraternidade cristã retoma a
vida. Os cristãos, de fato, vão ao encontro dos pobres e frágeis não para
obedecer a um programa ideológico, mas porque a palavra e o exemplo do Senhor
nos dizem que todos somos irmãos. Este é o princípio do amor de Deus e de toda
justiça entre os homens. Sugiro a vocês uma coisa: antes de terminar, faltam
poucas linhas, em silêncio cada um de nós, pensemos nos nossos irmãos, nas
nossas irmãs e em silêncio do coração rezemos por eles. Um instante de
silêncio.
Bem, com essa oração levamos todos, irmãos e
irmãs, com o pensamento, com o coração, aqui na praça para receber a benção.
Hoje, mais do que nunca, é necessário levar de
volta a fraternidade ao centro da nossa sociedade tecnocrática e burocrática:
então também a liberdade e a igualdade tomarão suas corretas entonações. Por
isso, não privemos as nossas famílias da beleza de uma ampla experiência
fraterna de filhos e filhas. E não percamos a nossa confiança na amplitude de
horizonte que a fé é capaz de trazer desta experiência, iluminada pela benção
de Deus.
CNBB com News.va.
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