O Senhor derrotou o inimigo
através da Docilidade ao Espírito Santo, pois “no deserto, ele era
guiado pelo Espírito”, da Palavra: “A Escritura diz: ‘Não só de pão
vive o homem”; da Oração: “Terminada toda a tentação, o diabo
afastou-se de Jesus”; doJejum: “Não comeu nada naqueles dias e,
depois disso, sentiu fome”, e pela Adoração:“Adorarás o Senhor teu
Deus, e só a ele servirás”. Exercendo Sua autoridade que vinha de uma vida
coerente e santa. Isso fica bem claro na leitura deste Evangelho.
De maneira semelhante como o antigo povo de Israel partiu durante quarenta anos pelo deserto para ingressar na terra prometida, a Igreja, o novo povo de Deus, prepara-se durante quarenta dias para celebrar a Páscoa do Senhor. Embora seja um tempo penitencial, não é um tempo triste e depressivo. Trata-se de um tempo especial de purificação e de renovação da vida cristã para poder participar com maior plenitude e gozo do mistério pascal do Senhor.
Jesus Cristo dando inicio a
caminhada do Novo povo de Deus se dirige ao deserto como lugar de encontro com
Deus, lugar de recolhimento, onde Ele se revela, onde se escuta Sua Palavra. E
diferente do antigo povo da Aliança que sucumbe a tentação, se revolta, tem
saudade das cebolas do Egito, onde eles tinham o que comer, mas eram escravos.
Jesus vence a tentação, vence o demônio pela oração, pelo jejum através da
Palavra e da Obediência ao Pai.
A Quaresma é um tempo privilegiado para intensificar o caminho da própria conversão. Este caminho supõe cooperar com a graça, para dar morte ao homem velho que atua em nós. Trata-se de romper com o pecado que habita em nossos corações, nos afastar de todo aquilo que nos separa do Plano de Deus, e, por conseguinte, de nossa felicidade e realização pessoal.
No pórtico da Quaresma recém-começada, encontramos Jesus tentado pelo diabo. A Bíblia tem vários nomes para este personagem, mas em todos subjaz a mesma incumbência da sua missão: o que separa o que arranca; diabo, dia-bolus: o que divide. O demônio – no meio do mundo que o ignora e o torna frívolo – está mais presente que nunca: nos medos, nos dramas, nas mentiras e nos vazios do homem pós-moderno, aparentemente descontraído, brincalhão e divertido.
Com Jesus, como com todos, o diabo procurará fazer uma única tentação, ainda que com diversos matizes: romper a comunhão com Deus Pai. Para este fim, todos os meios serão aptos, desde citar a própria Bíblia até fantasiar-se de anjo da luz. As três tentações de Jesus são um exemplo muito atual: da tua fome, converte as pedras em pão; das tuas aspirações, torna-te dono de tudo; da tua condição de filho de Deus, coloca a tua proteção à prova. Em outras palavras: o dia-bolus buscará conduzir Jesus por um caminho no qual Deus ou é banal
e supérfluo, ou é inútil e nocivo.
Prescindir de Deus porque eu reduzo minhas necessidades a um pão que eu mesmo posso fabricar, como se fosse minha própria mágica (1ª tentação). Prescindir de Deus modificando seu plano sobre mim, incluindo aspirações de domínio que não têm a ver com a missão que Ele me confiou (2ª tentação). Prescindir de Deus banalizando sua providência, fazendo dela um capricho ou uma diversão (3ª tentação).
Isso se torna atual se
formos traduzindo, com nomes e cores, quais são as tentações reais (!) que
separam – cada um e todos juntos – de Deus e, portanto, dos outros também. A
tentação do deus-ter (em todas as suas manifestações de preocupação pelo
dinheiro, pela acumulação, pelas “devoções” a loterias e jogos, pelo
consumismo). A tentação do deus-poder (com todo o leque de pretensões de
ascensão, que confundem o serviço aos demais com o servir-se dos demais, para
os próprios interesses e controles). A tentação do deus-prazer (com tantas, tão
infelizes e, sobretudo tão desumanizadoras formas de praticar o hedonismo,
tentando censurar inutilmente nossa limitação e finitude).
Quem duvida de que existem mil diabos, que nos encantam e seduzem a partir da chantagem das suas condições e, apresentando tudo como fácil e atrativo, nos separam de Deus, dos demais e de nós mesmos?
Jesus venceu o diabo. A
Quaresma é um tempo para voltarmos ao Senhor, unindo novamente tudo que o
tentador separou. “Jejuando quarenta dias no deserto, Jesus consagrou a
abstinência quaresmal. Desarmando as ciladas do antigo inimigo, ensinou-nos a
vencer o fermento da maldade. Celebrando agora o mistério pascal, nós nos
preparamos para a Páscoa definitiva”. (Prefácio do 1° Domingo da Quaresma).
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